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Tuesday, 9 February 2016



Cinema e Minorias



O cinema, como várias outras manifestações artísticas, é algo que me fascina bastante. Máquina de fazer sonhar, instrumento de instrução e mecanismo de divulgação de temas que importa mostrar à sociedade, para que sejam melhor compreendidos, o cinema é uma importante ferramenta cultural e de lazer nos dias de hoje. 

Neste post em específico, gostaria de reflectir acerca da produção cinematográfica dos últimos meses, particularmente no pegar de temas onde as minorias sociais são abordadas, pondo a descoberto importantes figuras da nossa história ocidental, os preconceitos por que passaram, permitindo a comparação entre a narrativa retratada e a nossa realidade actual.

Quando utilizo a palavra 'minorias' reporto-me a minorias sexuais - homossexualidade, transsexualidade ou o simples facto de se ser mulher. 
Num mundo que ainda é marcadamente regido pelo pensamento de eixo heterossexual, estas ditas minorias acabam, várias vezes, por se ver relegadas para um segundo ou terceiro plano, a vários níveis.

Os filmes que escolhi para aqui figurarem, parecem-me de grande valor, desde logo por exporem questões que têm sido alvo de algum esquecimento ou desinteresse, mas que hoje estão a ganhar protagonismo, fomentando uma maior compreensão das diferenças e pondo a descoberto os preconceitos, permitindo combatê-los.


Por ordem cronológica, O Jogo da Imitação, de Mortem Tyldum (2014), é o primeiro filme a que quero fazer referência. Contando a história de Alan Turing, personagem que eu já tinha visto mencionada, mas cuja real importância só entendi com este filme, torna-se mais do que perceptível a violência e o absurdo que se pode criar com base em preconceitos, a ponto de anular todos os outros aspectos de uma pessoa, dando destaque apenas à sua orientação sexual. Mais do que pôr a descoberto estes aspectos negativos, penso que a verdadeira importância desta obra está no facto de resgatar para a memória colectiva a figura de um homem, de grande valor, que foi crucial no período da II Grande Guerra.




Na minha óptica, a ideia de conceber um filme, com actores de relevo, em torno de uma figura marginalizada da sociedade britânico do século XX, representa uma decisão digna de aplausos. Turing não aparece como acessório à narrativa, ele é o cerne da mesma, algo que poucas vezes se vê. Pôr um homossexual como personagem pivô de uma trama é algo fantástico, que mostra as mudanças que atravessamos actualmente, em direcção a uma maior aceitabilidade das diferenças.


As Sufragistas são o segundo filme desta selecção. De Sarah Gavron (2015), nesta narrativa retrata-se o papel dado à mulher pela sociedade inglesa do século passado, um papel que via a mulher como mero instrumento reprodutor, como esposa e como mãe, sem vontade própria e dependente de uma figura masculina, pai ou marido. 
Novamente se põe em evidência um momento histórico em que a heteronormatividade dita as regras, subjugando a mulher, vista como o sexo fraco, mentalmente menos capaz. Neste filme, retrata-se a luta destas mulheres, o Movimento Feminista que permitiu que hoje se usufrua de liberdades tidas como adquiridas, mas que à altura não passavam de um sonho. Liberdades ganhas à custa de muito sofrimento e esforço,mas sobretudo de uma coragem e vontade de acção enormes, que acabaram por sair vitoriosas. 



Uma outra questão que este filme destaca, num momento da narrativa particularmente chocante, é a necessidade que parece haver em criar um escândalo, associado à morte, para que a sociedade se sinta obrigada a reparar em algo que necessita de atenção, mas que só a consegue por este tipo de vias mais extremas. 


Também de 2015 é o filme A Rapariga Dinamarquesa, de Tom Hooper, cuja história se centra na questão da transsexualidade, focando a figura de Einar Wegener, uma das primeiras pessoas a submeter-se a cirurgias para mudança de sexo. Assiste-se ao abraçar da sua vertente feminina, enquanto Lili Elbe, assim como aos problemas consequentes, quer em contexto de casal, na relação com a sua esposa, quer em contexto social. 


Um filme poderoso, dramático e que coloca a descoberto uma temática menos abordada, ainda que actualmente esteja a ser alvo de um maior investimento, em prol da desmistificação de ideias erradamente preconcebidas.


O último filme a que quero fazer menção é Carol, de Todd Haynes (2015), onde a homossexualidade volta a ser o tema principal, desta vez no feminino. Com uma prestação sublime de Cate Blanchett, num dos principais papéis, retrata-se uma relação heterossexual que apenas se mantinha por convenção social e que acaba para dar lugar a uma relação amorosa entre duas mulheres. Uma relação onde o amor era verdadeiro e partilhado.


À semelhança dos filmes acima mencionados, também este é um filme de época, onde fica explícito o peso da aprovação e do julgamento por parte da sociedade, em relação a algo considerado transgressor (seja o direito ao voto por parte das mulheres ou o amor entre duas pessoas do mesmo sexo). 
Pulando entre o amor verdadeiro e o sofrimento sentido, por o saber mal visto socialmente, este filme mostra como, com vontade, se pode contornar os preconceitos, em prol de se abraçar a vida pretendida, com a pessoa querida.

Com base nesta selecção, penso estar-se no bom caminho, em direcção a uma realidade mais aberta mentalmente, onde as diferenças deixem, paulatinamente, se der algo estigmatizado, para passarem a ser celebradas, como parte da riqueza da própria sociedade. 

Esperamos que mais filmes abordem estas temáticas.

Nota: nenhuma das imagens ou vídeos me pertence.

XR